
Um ator cômico italiano, Massimo Troisi, comprou os direitos autorais do livro para produzir o filme. Estava doente durante a filmagem, mas não quis parar as gravações. O filme ultrapassa o próprio livro - o ator, ao ler o livro, viu o que nós não conseguimos visualizar apenas lendo o livro. O filme é sobre a palavra, e o ator usa a palavra. O oficio do ator é trabalhar com a palavra. Podemos pensar o que o ator viu a partir da palavra escrita, e que traduziu para palavra falada, ao produzir o filme.
O carteiro vai captar, depois, com o gravador que o poeta Neruda lhe deu, os sons da natureza - do mar, do vento...Ele só viu a beleza da terra dele depois que conheceu Neruda, um poeta exilado. Ao produzir aquela gravação, foi poeta. Os sons das coisas relevam uma poética fundamental que habita o mundo. Por isso ele faz aquela pergunta: " Quer dizer que todas as coisas existem para que se possa falar delas?". Mas para falar delas é preciso ouvi-las.Ouvir o que as pedras, o mar, todas as coisas da natureza tem a dizer - esse sentimento do mundo.
Quando Neruda recebe anistia e parte da ilha, não escreve para Mário. Mário não se sente abandonado. O poeta já tinha dado tudo que podia dar para o carteiro - por isso o carteiro não sente magoa do poeta pelo fato de que Neruda não lhe escrevia.
O inicio do filme mostra um noticiário no cinema, em que o carteiro vê o poeta Neruda sendo recepcionado, ovacionado, com mulheres encantadas atrás dele. O carteiro Mário era apaixonado pela Beatriz mas não sabia como falar com ela - o poeta tinha tudo que ele desejava. Ele queria aprender e saber como falar com uma mulher. O pai do carteiro não dialoga com ele - vemos o tema da "palavra recusada". O Mário não se adaptava àquele meio - a vida do pai, como pescador, era dura -, e ele sentia até náuseas quando estava no barco.
Fonte:
(Livro Hospedar a Cultura, ouvindo e contando história - Círculos de Leitura)